Na região de Northern Virginia, onde morei nos Estados Unidos, era impossível ir a qualquer lugar sem encontrar pelo menos uma dúzia de estrangeiros. Estavam nos caixas do Walmart, atendendo em restaurantes, eram médicos e dentistas, colegas de sala das crianças de quem fui babá. Eles estão em todas as partes. Latinos, orientais, indianos, brasileiros...
Os americanos já estão acostumados à presença de estrangeiros em seu cotidiano; estão habituados a mistura de idiomas em qualquer ambiente público. Adaptaram-se às diferentes culturas que acabaram por formar o país onde nasceram.
Brasileiros nos EUA
Imagine a seguinte situação: o Brasil começa a receber e abrigar imigrantes de diferentes países do mundo. Tudo que conhecemos precisa ser adaptado para que os novos moradores também se sintam em casa. As placas de trânsito e os cardápios, por exemplo, precisam de uma versão em outras línguas. A culinária vai adquirir temperos e ingredientes diferentes trazidos de outros países. O português ganhará neologismos, numa mistura de idiomas, além de sotaques dos mais diversos.
No entanto, mesmo com a a mistura étnica e cultural, nada justifica qualquer forma de preconceito ou xenofobia. Os norte-americanos são um povo tão patriota e orgulhoso de sua história e às vezes acabam esquecendo que o país foi colonizado e é formado por diversas nacionalidades.
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Há preconceito com estrangeiros nos EUA?
Tendo isso dito e esclarecido, posso dizer que, como brasileira nos Estados Unidos, me senti, no geral, bem acolhida. Brasileiro costuma ser um povo bastante querido. As pessoas sempre têm curiosidade sobre nosso país e nossos costumes, fazem perguntas ou dizem que adorariam visitá-lo um dia.
A impressão é quase unânime: somos animados, alegres, festeiros, simpáticos, extrovertidos. No entanto, você cansará de ouvir falar dos mesmos assuntos pelos quais somos conhecidos no exterior: Carnaval, futebol, praias, Rio de Janeiro, favelas e florestas. Sim, temos tudo isso, mas somos muito mais. Não é porque sou brasileira que necessariamente sei sambar ou gosto de futebol.
Perdi a conta de quantas vezes tentaram falar em espanhol comigo - são poucos os americanos que sabem que o português é a nossa língua nativa. E quando andávamos em uma turma grande de brasileiras, as pessoas se espantavam com os nossos tipos físicos completamente distintos.
Mas antes de ficar irritado e levar qualquer comentário como preconceito ou ignorância, pare e pense: o que você sabe sobre o resto do mundo? Qual é a língua ou a capital de cada país? É claro que ficamos ofendidos quando se trata da nossa nação, do nosso povo, da nossa cultura. Temos orgulho e respeito pelo que é nosso. Mas também não sabemos tudo sobre outros países e outros povos.
Uma coisa que me deixava bastante chateada era, na verdade, em função de estar no país como au pair. A família americana que me recebeu e com quem morei durante os 18 meses de intercâmbio foi incrivelmente boa pra mim. No entanto, sentia que alguns parentes e amigos deles tinham certas reservas quanto à minha presença – como se eu não fosse capaz de falar ou compreender a língua deles (mesmo tendo o inglês avançado).
Os americanos tendem a generalizar que se o estrangeiro está nos Estados Unidos a trabalho é porque quer juntar dinheiro antes de voltar ao país de origem. Nem todo americano está aberto a novas culturas; alguns deles acham os Estados Unidos o melhor lugar do mundo e que todos são obrigados a falar em inglês. (Eu ouvi isso pessoalmente algumas vezes, de fato.)
Em outras palavras, acreditam que ser americano é o suficiente culturalmente. Por isso, não conseguem enxergar o quão enriquecedor (de todas as formas, não apenas no sentido literal) é viajar, morar e estudar em outro país.
Por isso, a partir da minha experiência muito particular, concluo que existe, sim, forma ou outra de preconceito nos Estados Unidos contra estrangeiros. Mas, de maneira geral, segue-se a regra de que educação é uma demanda global.
Mas essa experiência foi em 2010. Ou seja, as coisas mudaram muito ao longo dos últimos anos.
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